sexta-feira, 4 de abril de 2008

As palavras



As palavras escorrem-me na alma
Perdidas, arrancadas de mim
Como se tudo o que houvesse em mim fosse apenas alguém
Alguém cheio de vida

As palavras desaparecem e aparecem
Numa aparente aleatoriedade
Somente guiadas pela intermitência da vida

Agarram-me nesse momento
Segurando em mim
O que não pode
(não deve)
Ser segurado
Escoando nas paredes a razão de viver
Numa irrelevância metafórica

E,
sem a menor previsibilidade,
o mundo desequilibra e balança,
nas lianas da indeterminação

Aparece. Desaparece. Intensifica. Mata. Dá vida.

Porquê?

Inefavelmente inexplicável.

Pontualidade acima de tudo.

Há pessoas que afirmam: a pontualidade, ou melhor dizendo, a falta dela, é característica dos portugueses. Pois em boa verdade vos digo meus amigos, a pontualidade é característica da Diana Claro. Quando parece que estou atrasada, quando tudo indica que realmente estou incrivelmente atrasada, PUM. Lá vem a relatividade das coisas acudir por mim: “Não sou eu que estou atrasada, mas sim os outros que estão adiantados”.


Bem, isto foi uma pequena introdução para dizer que aquela datazinha bonitinha em que disse que iam ter surpresas estava adiantada, e eu, como sempre, just in time. Por isso cá vai. Divirtam-se. Que as minhas palavras despertem em vós os mais nobres sentimentos. Ou então uma boa gargalhada. Ou mesmo não despertar nada já é um bom começo.

sábado, 1 de março de 2008

Momentos de reflexão

Meus queridos leitores:

Imagino a vossa decepção e a vossa tristeza nestas últimas semanas. Não tenho publicado nada, e, como tal, a vossa vida carece de sentido. No entanto, não desesperem, em breve voltarei a escrever (ou melhor, em breve publicarei), atendendo a que tenho estado num retiro espiritual, juntamente com outros escritores de renome nacional e internacional.
Aconselho vivamente a leitura do meu blog a partir de dia 7 de Março, muitas surpresas vos esperam.

Até lá, continuarei a estudar, porque, infelizmente, escrever não paga as contas (ainda) e estudar é inteiramente necessário.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Luzes apagadas : fim da linha

capítulo II
A dolorosa longa espera dos dias reflectem-se no pesar dos meus passos, que se arrastam, como folhas amarrotadas pela chuva que se deixam cair das árvores, num aparente grito de fúria, cansadas de ver passar a liberdade e fartas de figurar num mundo onde a vida não é mais do que isso mesmo, a longamente eterna espera dos dias.
A minha alma guia-me através dos cantos da casa. Confusamente continuo aqui, ainda. A luz ofusca profundamente a sala, sombria e gélida. Uma onda de calor invade o espaço, antevendo algo de refrescantemente bom. O ranger pesaroso dos meus passos lembra o que outrora já se ouviu nesta casa. O barulho das crianças a pular e a saltar, as gargalhadas, a melodia dos seus sorrisos, a simplicidade dos seus gestos e a imensidão de bondade enchiam esta casa vazia e macambúzia. Tudo isto é agora, tristemente, apenas lembranças de um passado que não se sei bem se existiu, ou fruto do desejo cego de não me sentir sozinha.

Ring ring ring. O telefone toca outra vez. Atendo.

- Estou? – a voz soava distante, recôndita.

- Sim, quem fala?

- Eu sei que talvez não seja o momento mais indicado, mas precisamos de esclarecer tudo. Finalmente percebi tudo o que na altura me parecia incompreensível.

- Desculpe, deve se ter enganado no número, não estou a perceber o teor da conversa e lamento mas não a conheço.

Um longo e desesperante silêncio do outro lado da linha.

- Estou? Estou? – gritava furiosamente, chateada por algo que me parecia escapar entre a mente e o corpo.

A chamada caíra. A porta para o outro mundo fechara-se. E eu continuava profundamente sozinha.



Que chamada mais invulgar. As palavras continuam a ecoar na minha mente, como se me fizessem recordar algo há muito esquecido, algo há muito perdido. Não consigo deixar de atribuir alguma familiaridade bizarra à sua expressão vocal, ao modo de respirar e de entoar as palavras. Associações estranhas de quem passa muito tempo sozinha. Talvez.

O quarto continua desarrumado, confinado a um espaço ínfimo naquela casa pequena e acolhedora. A janela é o único lugar onde a sua pequenez não se faz notar, dando lugar a uma vista grandiosamente bela. As pessoas atarefadas caminham sobre a calçada e o tempo não pára. Passam os segundos, os minutos, as horas e assim mudam os semáforos, os peões atravessam a passadeira e os carros buzinam, com o nervosismo da civilização moderna imbuído na sua forma de viver. O mundo corre e eu aqui parada, vendo, o que não é mais do que uma invenção dos homens, o tempo, passar.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

A verdadeira natureza das coisas

Um dia alguém disse:

(I always felt that the great high privilege, relief and comfort of friendship was that one had to explain nothing) - de alguém com muita razão, cujo nome não me recordo.



Existem palavras. Existem gestos. Existem amigos.


Ou existiam?


As palavras penetram
Magoam, doem.
E ficam.



Talvez um dia,
Talvez uma vez,
Se a poeira do tempo
Levantar a esqualidez
De algo que nunca devia ter sido um momento
Talvez assim, as palavras já não doam
Já não firam
Já não fiquem.



Mas o esquecimento nunca traz paz.
Só atenua o que não pode ser atenuado.
Só amansa o que não deve ser sentido.
E lá permanecem as coisas más.


Remoendo, endurecendo, triturando
A raiva de não puder deixar de sentir
O que não queremos. O que não somos.


Tudo palavras. Tudo sentimentos.
A alma está farta.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Os dias

Sentir a amargura dos dias,
apagados, sombrios, fugazes,
como se o acordar da noite
despertasse em mim o mais
simples deslumbramento descontente

Sentir o desligar da corrente
a efemeridade longa de um dia
que nunca foi, apesar da estranha alma
que habita em mim
querer desesperadamente tornar real
o que de tão real que é
não pode realmente existir

Sentir a inexistência do universo,
agarrando os pensamentos pensados
de alguém que não quer sentir

Os dias? Longas esperas,
longas continuidades descontínuas
que se arrastam no tempo,
trazendo consigo
a dor de quem nunca sentiu.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O esforço

O som sibilante das folhas das árvores, arrastadas pelo vento, é inconfundível. Uma sensação de tranquilidade, de paz de espírito, … parece que as folhas têm vida e, por momentos, sacodem a pressão de ser folhas, de ter que cair no Outono e florescer na Primavera, de não poderem ser roxas, de não poderem agradecer ao vento por as fazer sentir vivas! Vida de folha não é fácil, engane-se o leitor!
Sentada no capim, verde-amarelado, sentindo as folhas fazendo-me cócegas, apreciava a paisagem verde-azulada. Como, em não raros momentos da vida, nos esquecemos de apreciar a beleza inexplicável da Natureza, os seus segredos e fantasias, confidências e emoções. Se fosse só o ser humano a sentir-se pressionado, a sentir-se comandado por factores exteriores à sua vontade… também a Natureza sente na pele o fardo de assegurar que o mundo continua com esta magnificência, tantas vezes ignorada e incompreendida pelos Homens!
Só o verdadeiro autor da sua “obra” sabe o seu valor inerente, o valor que provém de um esforço equiparável a mil gotas de suor derramadas debaixo da principal fonte emocional da terra. Por vezes o esforço não é reconhecido, e uma sensação de dever não cumprido ilumina a nossa chama de revolta interior, tantas vezes aquecida pela raiva emanada dos nossos fervorosos corações.
Mas gosto de pensar que tudo vale a pena e que o esforço e o valor das coisas é subjectivo. E embora sinta que o ser humano tem uma necessidade tremenda de saber o seu esforço reconhecido pelos outros para sua própria realização pessoal, por vezes não dá o devido valor ao seu auto – reconhecimento. E o “outro” devia contar, se tanto, como o “eu”.