segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Contemplar



Sentada no parapeito da minha janela, observo, contemplo, suspiro. Um pássaro sobrevoa o prado, e com ele toda a leveza de espírito com que desesperadamente anseio. Fosse ao menos a minha alma tão puramente singela como o seu bater de asas levemente lento, e eu seria livre.
Liberdade?
Talvez.
Ignorando tudo e todos, como se o mundo fosse só ele e o seu bater de asas discreto e amplo, querendo agarrar o mundo, o céu, o tempo e o espaço, confundindo-se com o céu azul e o ar quente, ele continua a voar, a planar, a sentir e a não sentir, sabendo que fará aquilo com a mesma certeza o resto da sua alegre e inconsciente vida.
Certezas?
Duvido.
Querendo ser mais do que aquilo que foi destinado, alcança o limite do horizonte, num voo tão alto e tão profundo que o céu rasga-se, abrindo-se uma lufada de ar fresco, e ele mergulha, na suprema fugacidade que dura um momento.
Querer mais?
Sempre.
Mergulha tão intensamente na paisagem aberta que parece que carrega pesadamente o fardo do mundo nas suas costas.
Fardos?
Todos temos.
Sustenho a respiração. O mundo continua apesar de apenas estar sentada a contemplá-lo. O mundo continua apesar do pássaro incessantemente lutar contra ele. O mundo continua apesar de continuamente pensarmos que, por momentos ele pára, e podemos desfrutá-lo com toda a calma e serenidade que tanto esperamos alcançar.