Sentir a amargura dos dias,
apagados, sombrios, fugazes,
como se o acordar da noite
despertasse em mim o mais
simples deslumbramento descontente
Sentir o desligar da corrente
a efemeridade longa de um dia
que nunca foi, apesar da estranha alma
que habita em mim
querer desesperadamente tornar real
o que de tão real que é
não pode realmente existir
Sentir a inexistência do universo,
agarrando os pensamentos pensados
de alguém que não quer sentir
Os dias? Longas esperas,
longas continuidades descontínuas
que se arrastam no tempo,
trazendo consigo
a dor de quem nunca sentiu.
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
O esforço

Sentada no capim, verde-amarelado, sentindo as folhas fazendo-me cócegas, apreciava a paisagem verde-azulada. Como, em não raros momentos da vida, nos esquecemos de apreciar a beleza inexplicável da Natureza, os seus segredos e fantasias, confidências e emoções. Se fosse só o ser humano a sentir-se pressionado, a sentir-se comandado por factores exteriores à sua vontade… também a Natureza sente na pele o fardo de assegurar que o mundo continua com esta magnificência, tantas vezes ignorada e incompreendida pelos Homens!
Só o verdadeiro autor da sua “obra” sabe o seu valor inerente, o valor que provém de um esforço equiparável a mil gotas de suor derramadas debaixo da principal fonte emocional da terra. Por vezes o esforço não é reconhecido, e uma sensação de dever não cumprido ilumina a nossa chama de revolta interior, tantas vezes aquecida pela raiva emanada dos nossos fervorosos corações.
Mas gosto de pensar que tudo vale a pena e que o esforço e o valor das coisas é subjectivo. E embora sinta que o ser humano tem uma necessidade tremenda de saber o seu esforço reconhecido pelos outros para sua própria realização pessoal, por vezes não dá o devido valor ao seu auto – reconhecimento. E o “outro” devia contar, se tanto, como o “eu”.
sábado, 3 de novembro de 2007
Uma corda

Puxa
Segura
Prende
Sufoca
Amordaça
Chicoteia
E a corda
Prende-nos às correntes do dogmatismo
Sufoca toda a alegria de viver
Amordaça o sorriso, a vontade de querer mais
Chicoteia tudo o que se demonstrar uma afronta
Mas, se tivermos audácia
Ela segura-nos
Puxa por nós
Salta as barreiras do impossível
Prende o inatingível
Solta a vontade de vencer e triunfar
Sufoca toda a tristeza
Amordaça as derrotas
A corda
É o que nós fazemos dela.
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Luzes apagadas : fim da linha !
CAPÍTULO I
E se um dia as luzes do meu quarto se apagarem? E mesmo que eu faça tudo para as voltar a acender, elas simplesmente não ligarem?
Num sono profundo, adormecido, me encontro. As luzes estão apagadas. Faço um esforço por esticar a mão, entorpecida, depois de uma longa noite de sono intenso. Nem os sonhos invadiram este descansar mole e sedento: deixei-me levar pelo desligar da alma, num momento em que todas as minhas breves forças precisavam de ser carregadas. Agarro o candeeiro e acendo a luz. Não acende. Tento outra vez. Desligada. Um arrepio percorre-me a espinha. Sento-me à beira da cama. Os meus músculos contraem-se e sinto um mau estar generalizado pelo corpo. Olho à minha volta e tudo me parece diferente, embora a disposição do quarto esteja exactamente no mesmo lugar. Há algo diferente no ar, pressinto – o. Um cheiro estranhamente familiar invade a atmosfera, envolvendo-me de uma forma tão invulgar como acolhedora.
Grito. Chamo. Choro. Estou sozinha. Solitariamente abandonada. A espera é longa, dolorosa e o frio continua a habitar a minha alma. Estarei vivamente morta? Segurada apenas pela linha ténue que separa a luz das trevas?
As luzes continuam apagadas. E as segundas oportunidades desvanecem-se, tal e qual as nuvens num dia de sol amargurado, raiando apenas porque assim destinou a mãe natureza, e tudo o que rege a nossa estranha forma de viver.
O telefone toca. Uma vez, duas vezes, até aparentemente se cansar de ser ignorado. Levanto-me da cama e decido enfrentar mais um dia.
»»continua
p.s Depois de uma ida ao cemitério !
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